Quando somos confrontados, cara a cara, com a realidade dos velhos mais desprotegidos deste País, quase me envergonho dele, apesar de amar tanto o meu Portugal.
É que por mais que nos incomodem as realidades duras que vamos ouvindo e percepcionando de longe, nada se compara quando as confrontamos de perto, mesmo ali junto de nós.
Já passaram muitas horas, desde as compras de Supermercado desta manhã mas, acho que não as vou esquecer tão depressa.
Quando me dirigia à zona dos queijinhos reparei numa senhora que procurava por ali indecisa, não se percebia bem o quê. Aparentava uns setenta e pouquinhos anos, tinha um ar limpo e bem simples, mas cuidado.
Passado um pouco, dirigiu-se a mim devagar e pediu:
- A menina (menina eu..., já não me chamavam assim faz séculos...) não se importa de me dizer qual é o quarto de queijo mais barato? Sabe, é que eu já não vejo muito bem.
Parei e prontifiquei-me a ajudar a procurar.
- É este aqui minha querida. Custa 2,69 Euros.
- Uuuuhhhmm... Obrigada! Fica para outra vez, disse ela.
Deu-me um baque e de repente disse-lhe:
- Qual outra vez! Não fica nada! Ponha aí no meu cesto. Eu ofereço-lhe o queijo, com muito gosto. (sorri, para não a envergonhar, nem intimidar)
Parou, olhou para mim surpresa e disse-me:
- Obrigada menina. Não precisava (sorriso).
- Venha comigo. Precisa mais alguma coisa?
- Ah menina (novo sorriso)...
- Diga. Não se acanhe.
- Talvez um detergente da loiça menina. Mas por favor escolha o mais barato.
- Combinado.
Caminhámos um pouco até à zona dos detergentes e lá fui eu escolher o detergente.
- Venha comigo avozinha. Já terminei as minhas compras.
E lá me seguiu ela feliz, de mansinho.
- Então e uma frutinha, avozinha? Leve uma frutinha que lhe faz bem! Olhe ali aquelas maçãs tão lindas!
Olhou-me de novo, com aquele olhar doce e tímido, e foi pegar um saco de maçãs.
- Obrigada menina. Muito obrigada! (Sorriu, de novo)
E lá fomos as duas até à caixa do Supermercado, em passo tranquilo.
E ali ficou, junto a mim, quietinha, a aguardar a prendinha.
Quando lhe dei o saco, sorriu de novo.
- Bem-haja menina. Deus a proteja!
- Saúde avozinha! Bem-haja, também!
E lá foi ela feliz, com tão pouco.
Saí dali devastada, com a Alma cinzenta e o coração partido.
Subi a rua, até ao meu carro, com lágrimas nos olhos e com um peso nos ombros, que nem consigo explicar.
Casos como este, devem estar por aí, aos milhares..., em que 5 ou 6 Euros fazem a diferença e são um verdadeiro tesouro, impossível de alcançar.
Pergunto-me a mim mesma, como é que os "nossos" governantes podem ser tão autistas e tão insensíveis e, sobretudo, como é que podem fingir que são cegos e colocar a cabeça na almofada, todos os dias, como se os nossos velhos desprotegidos, fossem um mero argumento de Ficção?
Espero que sofram de insónias e pesadelos, até que a consciência pesada, os desperte um dia.
Quiçá? A esperança é a última coisa a morrer!
Beijos,
da Princesa!