Monday, November 03, 2014

A tristeza


Hoje li um pequeno artigo no jornal diário "Destak", sobre a permanência, no tempo, de alguns sentimentos ou sensações que nos podem acompanhar, em qualquer momento.

Devorei as palavras a correr, enquanto tomava o pequeno-almoço. O texto afirmava, com base científica, fundamentada e comprovada, que a tristeza é o sentimento que mais perdura, até que a consigamos varrer para sempre.
Pelos vistos nem a vergonha, nem o tédio, nem a alegria, batem a tristeza na batalha contra o tempo. Porque será?

Aqui vos deixo um artigo de opinião escrito, também para o jornal "Destak", por Luisa Castel-Branco, a 19 de Março de 2012.

Grande Luisa! O texto é, simplesmente, lindo!

Beijos!
da Princesa! (e quando a tristeza tenta atacar..., a Escrita e o Ashtanga Yoga, afogam-na, eheheheh)


Tristeza
Hoje acordei enrolada em tristeza. Sem porquês. Pelo menos não mais do que ontem ou os dias anteriores. Mas acordei curvada. Com o peso da vida nas costas. Com o rosto fechado e a imagem que o espelho me devolve não sou eu, mas outra que um dia existiu.

Hoje acordei com saudades de todos os que amei e partiram. Porquê hoje? Não sei. E não sei porque o meu corpo se recusa a mover e para aqui fiquei. Lá fora está sol. Um calor agradável e eu tenho frio. Um frio dentro dos meus ossos, dentro das minhas entranhas.Hoje não há sonhos possíveis. Apenas uma neblina que me tolda os olhos que as lágrimas não vêm. Porque haviam de vir? Sentada aqui sinto-me rodeada por tanta gente, pelos que já partiram e contudo nun-ca deixam de pertencer à nossa vida, aos nossos dias, alegres ou tristes.

Quem sou eu para sentir este peso, esta tristeza? Tantos estão muito piores do que eu, muito mais sós, muito mais perdidos. E, contudo, sinto-me a desaparecer na paisagem. Por entre as ruas e as pessoas que caminham apressadas. Como se fosse possível diluir-me nos minutos e horas que perfazem o dia. Ordeno ao meu corpo que se mova e à minha mente que desperte deste pesadelo, deste estado de sonambulismo, em que estou aqui e não estou. Mas não me obedecem e para aqui fico, com as horas a passarem, sei que passam porque ouço o tic-tac do relógio. Hoje acordei envolta em tristeza, recordações e lágrimas que um dia chorei. Amanhã quando me levantar vou sacudir o pó das memórias, vou sair de passo acelerado, mesmo não indo a sítio nenhum. Só para ter a certeza de que estou viva.

No comments: