Wednesday, September 24, 2008

“Te doy mis ojos” (Take My Eyes)

Pois tal como já tenho dito várias vezes, esta Alemanha é uma verdadeira caixinha de surpresas, mesmo aqui no coração do “country side”.
Hoje o início da noite foi passado no “Cinema Quadratv, Kommunales Kino Mannheim”.
Aí decorre um ciclo de cinema espanhol onde os filmes são passados com o som original e, apenas, legendados em alemão. Ora isso é uma precosidade pois é coisa rara em terras germânicas, onde tudo é dobrado na língua “mater”.
O filme, “Te doy mis ojos”, foi dirigido por Liliana Paolinelli em 2003.
A problemática da violência doméstica exercida sobre a mulher é abordada de forma densa, forte, emotiva e muito sentida. Debaixo da capa do “amor", sempre possessivo, a coberto da eterna desculpa de "não poder viver" sem a mulher amada, ou da dose de sexo de um momento fugaz (que vale o que vale...) oferecida como elemento reparador das agressões do corpo e da alma, acobarda-se uma violência masculina sem limites “que magoa cá dentro”, como diz Pilar ao apresentar uma queixa na Polícia que fica suspensa a meio de ataque de angústiva, afogado em lágrimas incontidas.
O filme foi-me pesando sobre os ombros, ao fazer-me recordar aqui e além, fugazes episódios de uma vida muito anterior que vai longe, muito, muito longe... e que poderia ter vindo a culminar em algo parecido, caso eu não tivesse saltado fora a tempo.
O mais interessante, para além das interpretações fabulosas de Laia Marull, a vítima (Pilar), Candela Peña, a irmã (Ana) e Luis Tosar, o marido agressor (Antonio), são as pistas dadas sobre as terapias do tratamento psicológico da violência masculina, a crueza do vazio contido nas desculpas que cada um encontra dentro de si para o exercício dessa mesma violência e a exposição dos sentimentos que se geram no seio do medo feminino.
Este filme mostra o lado psicológico da violência (da vítima e do agressor), o sofrimento, a perca da liberdade e o descontrolo físico face à incapacidade de enfrentar o medo que nesta história específica, convive com uma sensibilidade rara da mulher agredida...
Neste tipo de contextos por "tudo" e por "nada" se agride, o Físico e a Alma.
Se tiverem oportunidade de ver um dia destes, não percam!
Hoje, ainda vou ler um pouco do segundo livro que trouxe comigo na bagagem (o primeiro “Como Água para Chocolate”, de Laura Esquivel, acabei ontem), “As mais belas histórias”, de Hermann Hesse, presente da filha quando da recentes estadia em terras Lusas.

Beijos,
Da Princesa

PS
Uma circunstância engraçada...
Fui ver o filme junto com uma portuguesa, uma venezuelana e um alemão...

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